METAVERSO: A nova fronteira da Internet

*Pesquisa e Análise de Luiz Adolfo Schiller, CGA Ricardo Peretti, CGA – SANTANDER

1. O que é Metaverso?

Popularizado recentemente pela mudança do nome da holding Facebook para Meta (por ora, com o ticker FBOK34), o Metaverso é um conceito antigo na ficção científica, que remete à realidade expandida por meio da tecnologia. O termo foi cunhado no romance cyberpunk Snow Crash e é a mistura das palavras meta (além) e universo.

O Metaverso é encarado como a evolução da internet e a expansão das fronteiras da tecnologia para o mundo virtual. A expressão se refere a uma realidade virtual – ainda inexistente – em que a interação entre os usuários deixará de ser apenas por meio de mensagens, textos, vídeos e outros estímulos por telas bidimensionais, assumindo uma imersão abrupta do indivíduo dentro de um mundo virtual.

Ao contrário de como se utiliza atualmente as redes sociais, o Metaverso contará com dispositivos que conectam o usuário dentro de um universo digital composto por ambientes computacionalmente simulados.

O Metaverso pode se expressar em uma realidade virtual – em que o usuário, por meio de equipamentos de realidade virtual, aliena totalmente seus sentidos do mundo físico, e se posta em um plano paralelo – ou em realidade aumentada, em que o usuário efetivamente vê e vivencia a “vida real”, mas é estimulado também por elementos digitais na realidade física.

Um exemplo de realidade virtual seria usar óculos de realidade virtual para jogar jogos de videogame, como o Playstation VR da Sony (SNEC34), o Oculus da Meta (FBOK34) ou o esperado lançamento deAR/VR da Apple (AAPL34) para 2022.

A realidade aumentada (AR) podeser experimentada em filtros do Instagram, que projetam em você ou no ambiente ao seu redor diversos elementos.

2. As bases do Metaverso

Como dito, o Metaverso será a expansão da realidade como conhecemos. Este conceito já existe, é a expanded reality (XR), que abrange a realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR). Embora hoje seja muito mais comum o contato com a realidade aumentada – em filtros de celular, provadores de roupa virtuais, ou mesmo em jogos como Pokémon GO – a realidade virtual é aquela que carrega maior excitação sobre o Metaverso.

Isso ocorre porque grande parte das novas tecnologias em desenvolvimento para o Metaverso estão sendo desenhadas para a realidade virtual. Além disso, companhias cada vez mais veem grande capacidade de criação de riqueza neste novo plano virtual em construção.

É essencial frisar que, independentemente da forma assumida, o Metaverso não é propriedade de nenhuma empresa, assim como hoje não podemos afirmar que a internet pertença a alguém, ainda que grandes players como as big techs sejam as principais provedoras de produtos e serviços na web.

Diversas companhias e usuários farão contribuições a essa nova etapa da internet, mas nenhum ente terá seu domínio pleno. Dessa forma, comparações do Metaverso com o jogo Second Life – febre do início dos anos 2000 – não são inteiramente justas, uma vez que Second Life era uma plataforma pertencente a uma companhia.

Dito isso, é válido destacar que hubs virtuais – como Zoom e Google Meet – ou jogos de MMO (Massive Online Multiplayer), como World of Warcraft e Fortinite, não são o Metaverso, ainda que manifestem características comuns.

Não o são, pois, como dito, são produtos e serviços pertencentes e fechados às companhias que os criaram e detém.

As tecnologias-chave do Metaverso

As bases do Metaverso são os hardwares de realidade aumentada e virtual e os sistemas de negociação descentralizados, notavelmente as criptomoedas e NFT’s. Abaixo, elaboramos sobre algumas de suas tecnologias:

▪ Realidade Aumentada: A realidade aumentada é a extensão do mundo em que vivemos via adição de elementos digitais. Essa tecnologia utiliza telas, tais como as de smartphones oude smartglasses, para exibir informações adicionais às do mundo real que não seriam apresentadas de outra forma. É uma “continuação” da nossa realidade.

▪ Realidade Virtual: A realidade virtual, ou virtual reality (VR), é entendida como a imersão total do usuário ao mundo digital, Em poucas linhas: Estamos presenciando uma transformação disruptiva na Internet. O Metaverso, embora soe como algo distante, é um nome para uma nova fase do relacionamento à distância, num ambiente virtual habitável, que transcende a forma como utilizamos a Internet hoje.

Por enquanto, há muitas teorias e muitas dúvidas sobre como poderá ser utilizado e explorado, mas muita gente grande está levando a sério.

A Meta Platforms (Facebook) já promove internamente reuniões em realidade virtual, experiência que pode se aproximar ao que veremos no verdadeiro Metaverso. Cada participante humano assume aforma de um avatar, personagemque o representará no mundo digital deixando de lado o mundo real.

Por meio do uso deferramentas que cobrem parcialmente ou totalmente alguns sentidos humanos – como a visão e a audição -, os usuários se conectam a um ambiente online que imita ou aperfeiçoa arealidade em que vivemos.

▪ Criptomoedas: As criptomoedas são moedas digitais criptografadas que, por meio da tecnologia do blockchain –que armazena os históricos de negociação de forma segura e imutável – trazem mais sigilo às suas transações, disponibilizando poucos detalhes da operação a terceiros que não participaram ativamente da transferência.

Isso permiteque tanto a quantidade de moedas em circulação quanto as suas negociações sejam estabelecidas sem interferências do governo ou de demais órgãos reguladores.

▪ NFT’s: da sigla, são tokens não fungíveis; ou seja, registros digitais – como fotos, vídeos ou modelos 3D – com valor atrelado a esse ativo não divisível e não trocável equivalentemente.

Os NFT’s são ancorados a um código de blockchain que registra a propriedade de uma conta a esse ativo. Os NFT’s serão fundamentais na criação do Metaverso,já que este novo mundo será povoado por paisagens e objetos digitais desenvolvidos por indivíduos e por empresas. Para poderem seguramente vender suas invenções, os criadores de conteúdo desenvolverão suas peças em formato de NFT.

Hoje, já é comum ler nos jornais objetos de NFT, como casas, veículos e roupas virtuais, sendo vendidos a preços notavelmente altos.

3. Quem construirá o Metaverso?

Como observado, o Metaverso, assim como a internet, será fruto de esforço conjunto entre empresas e indivíduos. Aqui, apontamos campos de crescimento do Metaverso: hardware, software, IoT (Internet das Coisas) e Criptomoedas Hardware

Na área do hardware, destacam-se as gigantes Nvidia, AMD (AdvancedMicro Devices) e TSM. A Nvidia se destacou como uma das pioneiras na temática do Metaverso, apresentando a sua tecnologia RTX como grande responsável pelo fornecimento gráfico do que a empresa chamou de seu Ominiverso.

A AMD também entrou no jogo ao afirmar que proverá os componentes gráficos às companhias ligadas a essa nova tecnologia. Por associação, a TSM, por ser a principal companhia que realiza a manufatura dos chips das duas anteriores, tende a se beneficiar da onda do Metaverso. Além disso, a Apple deve lançar em 2022 seus esperados óculos de realidade virtual e realidade aumentada, também se posicionando para se beneficiar desta tendência.

4. O que já existe do Metaverso hoje?

Entendendo o Metaverso enquanto plano digital complementar e/ou paralelo à realidade física, baseado em tecnologias de realidade aumentada e virtual, economia digital e internet das coisas, vemos que, na verdade, todos os aspectos do Metaverso já são realidade, ainda que usados separadamente.

A ideia de plano virtual já é usada há décadas. Com o desenvolvimento de videogames multijogador, é possível assumir a face de um avatar ese comunicar e explorar universos digitais. O caso do Second Life é exemplar e icônico nesse sentido, e foi um grande ensaio nos anos 2000 sobre o que seria o Metaverso.

Apesar das dificuldades, há projeções para o impacto do Metaverso. De acordo com a consultoria canadense Emergen Research, o mercado global do Metaverso atingiu US$ 47,7 bilhões em 2020. Ela prevê crescimento anual do mercado de 43% até 2028, quando deve atingir US$828,9 bilhões.