Empreendedorismo: além da retórica e do plano de negócios

Caros leitores, existe um dito popular no mundo da gestão e dos negócios afirmando que “o papel aceita qualquer coisa”. Sim é uma afirmação comum, mas não menos verdadeira e sensata. O papel, as planilhas, as apresentações, aceitam absolutamente tudo.

Desprovidos de qualquer poder, esses meios não fazem distinção entre as ideias mais mirabolantes e inexequíveis, de projeções realistas e planos de ação factíveis. Em resumo, um meio sem mecanismo de exclusão (um dia inventarão um software de uso cotidiano que rejeitará absurdos), um apresentador com grande poder de persuasão e uma plateia desprovida de senso crítico ou intimidada, e pronto, eis que surge a fórmula certa para o desastre.

A questão é que seja no universo empresarial, ou em qualquer aspecto da vida profissional, o produto final de um emaranhado de esforços e ampla dedicação só se materializa em algo consistente com uma execução impecável baseada em um sólido planejamento.

No mundo do empreendedorismo, a retórica jamais pode vencer a técnica, o esforço a disciplina e o apuro de colocar a mão na massa, na hora certa, da forma correta e com ingredientes apropriados. Não há espaço para embromação ou improvisos.

E o mercado, que é o grande juiz das inciativas empresariais é implacável, e não aceita conversinhas

Desta forma, listamos abaixo alguns cuidados essenciais para reduzirmos o distanciamento entre idealização planejada e a vida como ela é.

Definindo onde se deseja chegar:

Passo 1. Em uma abordagem realista, envolvendo o board (mesmo que sua empresa seja minúscula, reúna aqui as principais lideranças – e chame isso do que bem entender), levante os propósitos mais relevantes da operação. Com clareza, aqui é importante definir o que fazem, para quem fazem e como desejam fazer no futuro. (O velho e batido papo – porém importantíssimo – de missão e valores). Elabora um documento expressando com clareza estas questões;

Passo 2. Aprofunde um processo de autocrítica, sobre o que definiram no “Passo 1”. Tentem imaginar a análise feita sob a ótica de um investidor, sendo convidado a comprar o risco com você;

Passo 3. Na perspectiva da linha do tempo que deseja projetar/ planejar, estabeleça quais são os principais alicerces a serem erguidos para se atingir o estado definido nos “Passos 1 e 2”;

Passo 4. Estruture uma linha completa e detalhada de objetivos para serem atingidos rumo a “construção” de cada um dos alicerces definidos no “Passo 3”.

Passo 5. Para cada um dos objetivos definidos no “Passo 4”, monde uma cadeia de metas, seguindo uma lógica sequencial.

Planejamento e execução:

1. Com o estabelecimento de objetivos e propósitos, pode-se conceber um planejamento detalhado de ações (assim como as respectivas projeções financeiras) que seja efetivamente exequível. Sim, aqui podemos estabelecer pontos e elementos desafiadores que nos empurrem para frente, mas sem maluquices. Ou seja, um planejamento precisa ser realista;

2. Não é hora para vertigens, exageros ou forçadas de barra. Compromissos irrealistas invariavelmente caem no descrédito, e isso vale tanto no mundo empresarial como no pessoal/profissional;

3. Estabeleça uma estrutura detalhada de cronogramas;

4. Em meio a estas concepções será necessário conhecer ou prever o conjunto de obstáculos, resistências e complicações que naturalmente surgirão. Lembre-se, nesta viagem não haverá estradas sem buracos, e mais, alguns buracos aparecerão na última hora, surpreendendo todas as expectativas;

5. Com todos estes cuidados, você poderá cair na armadilha de tentar acelerar o processo ao constatar que a fase de preparação demanda tempo demais. Não deixe esta ideia tomar a sua cabeça e segura a ansiedade. A preparação é o alicerce da execução.

6. Passe para a fase de execução e cumpra os cronogramas com precisão. Aqui, disciplina e organização são temas indissociáveis;

7. Controle a execução com rigor.

Calibragem, gestão e envolvimento:

1. Ao longo do tempo, situações não esperadas surgirão, e isso vai demandar ajustes no conjunto de metas, objetivos e alicerces;

2. Na trajetória podem surgir novos posicionamentos alterando o “Passo 1” e isso vai demandar alterações relevantes. Faz parte, um planejamento precisa ser uma peça orgânica dotada de vida. Não é um documento estático;

3. A empresa precisa definir um curador do planejamento, que se responsabilizará por atualiza-lo, e proteger sua execução. É um bom passo rumo a um modelo futuro de boa governança;

4. Envolva a equipe, oferecendo transparência do conteúdo concebido, estabelecendo responsabilidades específicas, solicitando contribuições e cobrando resultados;

5. Monte um protocolo de segurança para que informações estratégicas não sejam revelaras;

6. Cultive o sangue frio e o bom senso, pois algumas correções de rota serão inevitáveis.

Conclusões:

Saiba que todos os ventos parecem bons e todas as direções aparentemente são interessantes, para quem não sabe onde quer chegar.

Você pode ser o empreendedor mais corajoso e dedicado, estar envolto por uma equipe criativa, dinâmica e engajada, e ainda dispor de recursos para apostar naquilo que querem fazer, mas de nada adiante tudo isso sem um eficiente casamento entre expectativa, objetivos claros e uma agenda de execução detalhada.

Se esse ingrediente não estiver presente, desperdiçará seus recursos, acabará por afastar a equipe tão bem selecionada, criará confusões societárias por conta da produção de frustações, e afastará parceiros estratégicos e investidores que eventualmente poderiam embarcar no seu empreendimento (e se embarcarem, infernizarão a sua vida justamente por não acreditarem no êxito da execução).

Empreender não é para qualquer um, mas sem um bom planejamento, fica impossível, e ajuda a engordar os índices da mortalidade empresarial no Brasil.

Não participe disso.

Boa sorte e até o próximo.

Por: Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial

Plataforma Brasil, uma butique especializada em projetos de investimentos e estruturações estratégicas.