PESQUISA: Mapeamento traça o perfil do empreendedor brasileiro de impacto socioambiental

Conduzido pela Pipe.Labo, o Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental – pesquisa quantitativa referência no ecossistema – chega à terceira edição. No mapeamento, destaque para uma análise do perfil do empreendedor brasileiro de impacto socioambiental e uma radiografia completa do ecossistema. O levantamento conta com o apoio da ENIMPACTO – iniciativa do Ministério da Economia -, Aliança pelos Negócios de Impacto, Climate and Land Use Alliance, do Fundo Vale, Instituto Clima e Sociedade e Instituto Sabin.

A terceira edição do Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental espelha avanços importantes do ecossistema rumo a um pipeline mais maduro e robusto de negócios. Apesar de uma parte importante da base mapeada de 1.300 negócios ainda não ser sustentável financeiramente, o levantamento revela que há mais soluções que deixaram a fase de ideação rumo ao modelo financeiramente sustentável. Entre os entrevistados, 40% não tiveram faturamento em 2019; 29% faturaram até R$ 100 mil; 8%, de R$ 101 mil a R$ 500 mil; 3%, de R$ 501 mil a R$ 1 milhão; 3%, de R$ 1,1 milhão a R$ 2 milhões; 3%, mais de R$ 2,1 milhões; e 14% não declararam. 

Coordenado por Lívia Hollerbach e Mariana Fonseca, da Pipe.Labo – think tank do setor de impacto –, o estudo revela que o empreendedor do setor está mais maduro na compreensão de diversos termos e conceitos do universo de impacto, como mais consciente dos recursos financeiros e apoios de que necessita em diferentes estágios de desenvolvimento. Mesmo com essa boa notícia, ainda é preciso entender a fundo as demandas não atendidas e os pedidos de ajuda dos empreendedores a cada etapa da jornada; do outro lado, analisar a disponibilidade de capital e os apoios não financeiros no ecossistema, para equilibrar essa relação e fomentar um pipeline de negócios mais saudável.

A edição ainda traz uma versão especial do Mapa de Impacto Ambiental, com dados sobre negócios de impacto que visam a endereçar desafios dentro dos setores agropecuária; florestas e uso do solo; indústria; logística e mobilidade; energia e biocombustíveis; água e saneamento; e gestão de resíduos. O Mapa 2021 contou com o apoio da ENIMPACTO, Aliança pelos Negócios de Impacto, Climate and Land Use Alliance, do Fundo Vale, Instituto Clima e Sociedade e Instituto Sabin. A íntegra do estudo está disponível no www.mapa2021.pipelabo.com.

RAIO X DO EMPREENDEDOR DE IMPACTO SOCIOAMBIENTAL

GÊNERO | A diversidade é um tema-chave e crítico na análise do perfil sociodemográfico dos empreendedores que estão à frente dos negócios de impacto mapeados. A edição de 2021 do Mapa de Negócios Socioambientaismostra que, apesar de haver equidade de gênero neste retrato – as mulheres estão presentes em 67% dos negócios mapeados e os homens, em 71% –, as empresas administradas por um time feminino tendem a receber menos recursos financeiros e apoios adicionais para evoluir na jornada, quando comparadas às lideradas por um time masculino. Na prática, elas são menos selecionadas para os processos de aceleração (20% conseguiram esse apoio contra 32% dos negócios liderados apenas por homens); e recebem menos investimentos: 22% captaram recursos de terceiros contra 29% dos negócios liderados por homens. Como consequência, as empreendedoras estão menos presentes entre os negócios em fase de escala: 25% das mulheres contra 35% de homens. Entre os 1.300 negócios mapeados, 27% têm apenas homens como fundadores; 15% têm mais homens; 19% são mistos; 10% têm mais mulheres; e 23% têm apenas mulheres. Na análise de fundador/liderança, 54% são liderados por homens e 43% por mulheres; 3% preferiram não reportar essa informação. A pesquisa incluiu os não binários, mas não houve amostra suficiente.

RAÇA | Quanto ao perfil racial do empreendedor de impacto mapeado, na base geral, nota-se um grande desequilíbrio na análise do principal fundador/liderança do negócio: 66% são da raça branca. Empreendedores pardos/mulatos, que representam 16% da base geral, e negros (9%) registram maior dificuldade de acessar investimentos; entre a base não investida, 20% são de negócios liderados por negros. Também esse perfil tem mais dificuldade em atravessar as fases iniciais da jornada – já que entre os negócios em fase de escala, apenas 10% têm empreendedores negros à frente contra 84% de raça branca. A região Norte do país é a que apresenta, comparativamente, a melhor distribuição neste quesito, registrando 50% de empreendedores brancos, 32% de pardos/mulatos, 8% de origem indígena, 6% de negros, 2% de origem amarela/oriental e 2% sem declarar essa informação.

PERFIL ETÁRIO | A análise do perfil etário da amostra revela que seria muito interessante incentivar a presença de empreendedores maduros nesta jornada de impacto. Negócios com fundadores acima de 50 anos se mostram em estágios mais avançados da jornada; entre os negócios em escala, 22% têm empreendedores com 50 anos ou mais – eles registram maiores faixas de faturamento e tendem a não buscar apoio de aceleradoras/incubadoras. A pesquisa revela que 22% do total de empreendedores mapeados tem entre 18 e 29 anos; 49%, entre 30 e 49 anos; 17%, entre 45 e 54 anos; 9% têm acima de 55 anos; e 3% não declararam.

ESCOLARIDADE & EQUIPE | A escolaridade do empreendedor é um importante quesito diferenciador da base; os com formação superior em Ciências Exatas e, principalmente Administração de Empresas, são dominantes em negócios mais maduros, que foram investidos e em fases de escala. A formação educacional do empreendedor e do time é, inclusive, um dos 22 Key Performance Indicators (KPI) –indicadores de performance que são chaves para um bom desempenho – considerados por investidores de impacto e analisados no estudo Scoring de Investimento de Impacto, publicado pela Pipe, em 2020. Entre os entrevistados do Mapa 2021, 53% têm pós-graduação, mestrado, doutorado ou pós-doutorado; 25% têm ensino superior completo; 13%, incompleto; 1%, fundamental completo ou médio incompleto; e 8% não declararam. Na análise de carreiras, 50% são formados em Administração de Empresas, Economia, Contábeis e/ou Computação, Engenharia, Física e Química (STEM). Nas empresas mapeadas, 14% são “Euquipe”, ou seja, contam com um único empreendedor; 55% têm de duas a cinco pessoas; 27%, seis ou mais pessoas; e 69% do total utilizam equipes freelancers.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E TEMPO DE EXISTÊNCIA | O Estado de São Paulo concentra o ecossistema empreendedor brasileiro – não só o de impacto –, sendo seguido pelas regiões Nordeste e Sul. A descentralização regional tem sido pauta no setor e se faz importante, também, na relação capital versus interior, uma vez que os negócios no interior parecem ter mais dificuldade de caminhar pela jornada, acessar investimentos e programas de aceleração; 36% do total está no interior dos Estados. O mapeamento mostrou que 58% dos negócios estão na região Sudeste – sendo 40% em São Paulo, 1% no Rio de Janeiro, 6% em Minas Gerais e 2% no Espírito Santo –; 16% no Nordeste; 15% no Sul; Norte e Centro-Oeste têm, cada, 5%.

A descentralização do ecossistema de apoio ao empreendedor é importante não somente entre as regiões do país como fora das capitais – já que há um número relevante de negócios sediados em cidades do interior. “Em uma análise comparativa, este perfil tem mais dificuldade de caminhar pela jornada, acessar investimentos e programas de aceleração.”

O mapeamento revela que 34% dos negócios socioambientais têm até dois anos de existência; 30%, de dois a cinco anos; 26%, mais de cinco anos; e 10% não declararam. Entre os entrevistados, 71% afirmaram que os negócios estão formalizados. “O tempo de existência dos negócios reflete um setor ainda emergente, no qual seis em cada 10 negócios têm, no máximo, cinco anos de fundação. A não formalização é uma característica marcante entre quem ainda está idealizando um negócio, já que – com os desafios burocráticos do país – se espera avançar pela jornada para assumir os compromissos fiscais de uma organização. Por outro lado, empreendimentos com mais tempo de mercado são os que de fato estão escalando e crescem entre a vertical de educação e nas regiões Sul e Norte do Brasil”, detalha Lívia Hollerbach, coordenadora do estudo e cofundadora da Pipe.Labo.

METODOLOGIA | MAPA DE NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIOAMBIENTAL

Estudo conduzido para acompanhar a evolução do pipeline de negócios de impacto positivo no país e destinado a referenciar o retrato atual do setor, o Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental teve a primeira edição em 2017 e é atualizado a cada dois anos. A pesquisa é elaborada com uma chamada nacional para que empreendedores – que lideram negócios de impacto socioambiental – façam um cadastramento ou atualizem dados na plataforma da Pipe.Social; a coleta de dados do Mapa 2021 foi realizada de 1º de dezembro de 2020 a 15 de fevereiro de 2021.

Com o apoio de 62 organizações do ecossistema, a terceira edição do Mapa alcançou 1.300 cadastros on-line com dados autodeclarados por meio de um questionário de 60 perguntas. Para a análise dos dados e elaboração do relatório final, o levantamento contou com uma desk research sobre avanços do setor no Brasil e dados de investimento de impacto no globo, assim como sessões de análise com os patrocinadores e especialistas do campo. A infografia e os dados gerais têm como base 1.272 negócios de impacto operacionais – 28 negócios mapeados declararam fechamento de portas ou a não continuidade de suas operações em 2021. O Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental traz uma amostra não exaustiva do setor, ou seja, o empreendedor se autodefine e se reconhece como integrante desse pipeline. A margem de erro para a leitura dos dados é de 3,1 pontos percentuais; o nível de confiança é de 95% para leituras na amostra geral.