FUNDOS ACELERAM INVESTIMENTOS EM REDES DE FRANCHISING

Por Daniel Alberto Bernard – Especial para Revista Franquia

Os fundos de investimento estão acelerando a expansão de redes de franchising, não só na forma de private equity, mas também permitindo o acesso ao mercado de capitais e também a outros produtos do mercado financeiro.

Sua rede despertou o interesse de fundos? Uau, isto quer dizer que ganhei na Mega sena duas vezes, ao desenvolver um conceito franqueável e atraente para investidores? Em parte, pode se dizer que sim! E agora, com dinheiro em caixa, posso me aposentar e viver de renda? Não, pelo contrário! Agora você terá de trabalhar em dobro para remunerar os donos deste capital!

Nem todo negócio é franqueável. Dentre diversos requisitos, precisa ter marca registrada, estar num segmento promissor, ter um know-how transmissível e controlável a distância e que não seja de domínio público, ter diferenciais competitivos percebidos e valorizados pelos clientes e franqueados, e o negócio precisa ser escalonável. Não basta faturar bem por estar no melhor ponto comercial da cidade, mudar o formato do produto ou ter feito uma única grande venda no passado!

No mundo inteiro, estima-se que haja cerca de 36 mil redes de franchising ativas, e somente há legislação especifica sobre franchising em 43 países (o último país que promulgou sua Lei foi a Arabia Saudita, em 22 de abril de 2020). Portanto, caso seu negócio seja de fato franqueável, saiba que você tirou a sorte grande!

Da mesma forma como há diversos requisitos para um negócio ser franqueável, há diversas exigências par um fundo investir numa franqueadora. O primeiro requisito consiste em ter sua contabilidade toda em dia, seguir regras de compliance e de governança corporativa, atender aos requisitos da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e do BACEN. Ora, há um grande divisor de águas na condução das empresas, que surge logo quando a empresa é estruturada: vou pagar todos os impostos ou não? Vou ter pleno controle das Notas Fiscais de Entrada e de Saída?

Caso opte em sonegar, a empresa poderá durar um certo tempo, porém não irá crescer, pois o dono nunca terá sossego e ficará diariamente preocupado com possíveis roubos, fraudes e desvios que poderão partir dos clientes ou da própria equipe interna. Vai trabalhar como aquelas tradicionais “lojas de turco”, onde o dono fica no meio da loja posicionado num local estratégico que lhe permita ter o melhor ponto de observação de tudo o que ocorre à sua volta. Afinal de contas, “o olho do dono engorda a boiada”, não diz o ditado popular?

Por outro lado, se optar por pagar todos os impostos, estará com a empresa 100% regularizada e em ordem, o estoque baterá com os controles do sistema de gestão, terá todos os relatórios gerenciais disponíveis por um moderno sistema de Business Intelligence. Mas se sentirá um otário, pagará impostos para um governo que não retorna os valores arrecadados em benefícios representativos à população, será o único empreendedor honesto que nunca terá preço menor do que os camelôs da região.  Qual a vantagem de ter um negócio regular e controlável?

– Seu negócio só é viável se não pagar os impostos? Bem, neste caso seu negócio simplesmente não é viável, meu caro! Ele precisa ser viável do ponto de vista econômico-financeiro e atraente do ponto de vista mercadológico.

– Seu negócio é viável pagando impostos e gera uma margem atraente que remunere o capital investido, a força de trabalho, os royalties do franqueador e ainda sobre lucro para o empresário? Aí você encontrou um verdadeiro diamante bruto!

– E se seu negócio reúne todas estas características, porém é pequeno diante do potencial de mercado? Bingo! Você virou alvo de Fundos de Investimento!

Mas, atenção: seus diferenciais competitivos podem virar cinzas caso esta informação se torne pública cedo demais, tornando seu modelo de negócios copiável. E numa expansão, seus baixos custos fixos irão aumentar significativamente. Saber o que fazer com uma injeção de capital na empresa requer um certo desapego e não tem uma resposta evidente. E o pessoal que entrar na empresa não terá a mesma cultura empresarial do que a sua, receberão salários polpudos de início sem saber ao certo o que farão para entregar aquilo para o que foram contratados, além de criar um ambiente mais racional e impessoal, o que pode gerar um choque com a equipe anterior, seguida de paralisia. O nome disto é change management, e também acontece a cada fusão e incorporação de empresas, razão pela qual a maioria destas M&A (“Mergersand Acquisitions” em inglês) morre na praia.

Ao expandir os negócios, geralmente se aumenta o faturamento, porém não necessariamente a lucratividade nem a rentabilidade do negócio. A escolha dos franqueados é menos criteriosa, e há forte pressão por resultados imediatos. Com dinheiro em caixa, o bom é que se pode abrir filiais ou franquias em todas as praças consideradas promissoras. Todo o processo de formatação e expansão da rede já precisa estar consolidado e afinado para que se expanda uma rede de alta performance.

Todos sonham em ser a maior e melhor rede em seu segmento, porém raras são as redes que conseguem esta proeza. O Boticário por exemplo não é a maior e melhor franqueadora do Brasil por acaso, e não apenas não recebe aporte de fundos como criou seu próprio fundo!

Para evitar este tipo de dificuldade, os fundos já alertam de início que pretendem investir para acelerar a expansão, e que podem vir a revender as cotas da empresa no futuro, almejando algum lucro, num processo conhecido como Management Buyout. Tudo somado, se bem conduzido, o aporte de fundos é de fato uma maneira de alavancar a expansão de redes, desde que os fundadores e demais envolvidos saibam que futuro desejam construir e onde querem chegar!   

Daniel Alberto Bernard, 54, Fundador e Diretor Geral da NetplaN Consultoria, é Economista e Mestre em Marketing e Finanças pela FEA-USP.

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