Comprei um sonho e estou vivendo um pesadelo
Por Renata Pin
“Comprei um sonho e estou vivendo um pesadelo.” Foi assim que um cliente me procurou, após investir em uma franquia que, em poucos meses, revelou-se muito diferente do que prometia. Sem suporte, sem organização, com uma franqueadora inexperiente e um modelo de negócio mal estruturado, ele se viu sozinho, preso a um contrato rígido e com o sentimento de ter sido enganado. Infelizmente, esse não é um caso isolado.
Muitas pessoas ainda acreditam que comprar uma franquia é uma escolha segura por natureza —como se o simples fato de o negócio ser “franqueado” garantisse sucesso. Mas não é assim. Existem boas franquias, bem estruturadas, com marcas sólidas e suporte efetivo. E existem outras que vendem promessas, mas não têm base concreta para sustentá-las. O problema é que, na ansiedade de empreender, alguns candidatos pulam etapas fundamentais e, pior, não buscam o suporte técnico necessário para tomar uma decisão tão importante.
Antes de investir, é preciso mais do que entusiasmo. É necessário planejamento. Isso começa com uma análise honesta do próprio perfil: o que você busca, no que acredita, com o que se sente confortável. A partir daí, vem a etapa crítica: investigar a franqueadora, entender o modelo de negócio, estudar a Circular de Oferta de Franquia e o contrato com atenção — e, principalmente, contar com um profissional especializado que possa ajudar a interpretar riscos, identificar omissões e levantar as perguntas certas antes da assinatura.
Quando sou contratada para esse tipo de análise, minha função vai além de “ler o contrato”. Eu ajudo o candidato a entender os compromissos reais que está assumindo, as obrigações, os custos ocultos, os pontos frágeis do modelo e os riscos que não estão explícitos. Em muitos casos, só após essa conversa o futuro franqueado se dá conta de que há mais dúvidas do que certezas — e é justamente aí que ele percebe se está diante de um bom negócio… ou apenas deum bom discurso.
É comum que, ao levar questionamentos para a franqueadora, o candidato perceba que faltam respostas consistentes. A falta de preparo para lidar com perguntas técnicas ou a ausência de informações básicas é um alerta valioso. E, entre os clientes que nos procuram antes da compra, não são poucos os que desistem da negociação —não da ideia de franquear, mas daquela franqueadora específica. E isso é ótimo. Melhor desistir a tempo do que descobrir tarde demais que o sonho era, na verdade, uma armadilha.
Do lado das franqueadoras, contratos transparentes e bem estruturados são igualmente fundamentais. Eles oferecem a clareza necessária para construir uma relação de confiança e garantir segurança para ambos os lados. Como advogada, recomendo —e fico sinceramente satisfeita — quando recebo documentos que refletem profissionalismo, responsabilidade e boa-fé. Há, sim, muitas franqueadoras sérias no mercado, comprometidas com a entrega de um modelo sólido e com o sucesso dos seus franqueados. E é justamente esse tipo de parceria que deve ser buscada e valorizada. Franquia não é atalho para o sucesso. É um modelo de negócio com vantagens reais, masque exige preparo, análise e decisão consciente. Quem se cerca de boas informações e da assessoria adequada, aumenta — e muito — as chances de viver o sonho que imaginou, e não um pesadelo que poderia ter sido evitado.