Que venham as diferenças!

Qual foi a última vez que você disse para seu chefe “eu não concordo?”.

Provavelmente há muito tempo, se é que já o fez alguma vez na carreira. Não se julgue, prezado leitor. A culpa é muito mais dele do que sua. Não acho que o fenômeno seja recente, mas ultimamente tem me chamado a atenção o quanto os profissionais de diversos níveis estão se privando de emitir sua opinião sobre os mais diversos temas quando se trata de lidar com seus superiores. Seja por simples comodismo, ou para seguir a máxima do “ser feliz ou ter razão” ou até mesmo por temer pelo próprio emprego. O fato é que os profissionais simplesmente preferem concordar, ao invés de entrar em qualquer embate ideológico, técnico ou estratégico.

Tal atitude é danosa em todos os aspectos e para todos os envolvidos, desde a pessoa que deixa de se expressar, passando pelo chefe e sua “razão” onipresente, chegando até a empresa, com certeza a maior perdedora.

 O prejuízo para a pessoa que não emite sua opinião vem de um constante e gradativo apequenamento profissional, onde seu dia a dia passa a ser muito mais de execução do que de estratégia, mesmo para cargos de gerência e diretoria (onde a frustração é ainda maior!). Para os chefes pode ser bom em um primeiro momento, onde suas opiniões são sempre boas, coerentes, brilhantes, mas ao longo do tempo se encontram sozinhos com suas certezas. Para as empresas, o prejuízo é incalculável, uma vez que pagam salários e benefícios em troca da experiência e expertise profissional que com o passar do tempo se resumem em decisões e práticas medrosas e reativas.

A mudança de tal lógica vem da conscientização de todos os envolvidos de que tal ciclo simplesmente não se sustenta ao longo do tempo. Para os chefes é preciso uma visão pragmática do negócio, separando as opiniões divergentes da equipe, de uma possível percepção de falta de comando ou direção. Opiniões diferentes, colocadas até de forma dura e incisiva, são sinais claros de uma equipe madura, reflexo de uma boa liderança. Da mesma forma para os chefiados, que precisam acreditar em suas convicções e se sentir confortáveis para colocá-las em pauta quando sentirem necessidade.

Os bons gestores com certeza irão valorizar tal atitude. Para as empresas é preciso olhar atento para líderes e liderados, buscando sinais no dia a dia que a tal rotina da “mordaça” ainda não se instalou, valorizando e estimulando as opiniões divergentes ou conflitantes. A mudança pode ser traumática em um primeiro momento, mas o resultado para o negócio e para as pessoas será benéfico e duradouro. Quanto a isso, acho que todos concordam. 

Por: Carlos Jenezi, especialista em desenvolvimento de produtos e articulista da Plataforma Brasil Editorial.