Um olhar para o que sempre existiu, mas nunca foi visto

RAGE APPLYING: A prática sempre existiu, só não era percebido

Especialista em carreiras destaca que o ‘novo’ termo cunhado pela geração Z para procurar um outro emprego ‘só de raiva’ faz parte de um fenômeno que sempre existiu.

Por Milena Brentan

Não é difícil lembrar, ao longo da vida, de momentos já presenciados de colegas querendo sair de uma empresa por conta de um – ou mais – descontentamentos. Talvez isso possa ter acontecido até na sua própria trajetória de carreira. O rage applying, termo que ficou conhecido com a geração Z, é um desdobramento desse fenômeno. De acordo com Milena Brentan, fundadora da MB People e consultora de carreiras, há responsabilidades que devem ser consideradas de ambos os lados.

É importante que a empresa gere clareza, oportunidades e que tenha lideranças comprometidas com o desenvolvimento. Porém, há também a responsabilidade de cada indivíduo em entender-se e buscar a evolução. “Às vezes é um desespero tão grande para sair daquela situação de desemprego ou de insatisfação dentro de uma colocação, que praticamente qualquer outro lugar ‘serve’. Se por um lado isso é um motivador para finalmente tomar uma decisão, por outro a pessoa pode tomar decisão por impulso e acabar em outra situação parecida. As pessoas precisam ser protagonistas das suas decisões de carreira”, explica Milena.

AVALIAÇÃO E AÇÃO

É preciso avaliar para onde ir. “Quem é o gestor que está contratando, qual o perfil e cultura da empresa, etc. Um hábito que quase ninguém faz é ‘tirar referências’ da empresa que está aplicando, mas isso pode ajudar, e muito, a entender a vida real lá dentro”.

É importante também, criar a consciência de que o rage applying não é um fenômeno de geração, mas que sempre existiu. Um estudo da Gallup aponta que 60% dos trabalhadores do mundo se sentem desengajados em seus empregos. Outro estudo, dessa vez da Microsoft, aponta que 41% dos entrevistados pretendem deixar seus empregos ainda neste ano. “Isso é um indicativo claro de uma crescente insatisfação, mas não são dados completamente alarmantes. Na verdade, temos também uma crescente conscientização de que as pessoas são protagonistas da própria carreira. E se em algum momento a empresa não faz mais parte do plano e expectativas, vão buscar outras oportunidades sim”, conclui Milena.

Outro ponto é o custo que isso gera para as empresas. “Aí está também uma responsabilidade das empresas de contratar adequadamente, de motivar adequadamente e de, em alguns casos, tomar decisões de desligamento e não gerar uma constante insatisfação”, comenta a especialista. Para ela, tudo isso começa com autoconhecimento, tanto por parte dos gestores quanto dos profissionais.

Uma liderança que tem autoconhecimento consegue fazer uma gestão mais eficaz e minimizar o rage applying. Da perspectiva de cultura, Milena sugere investir em processos claros e que valorizem a transparência e clareza. “Se a pessoa não foi promovida, por exemplo, seja transparente em explicar porquê. Demonstre como são feitas avaliações de desempenho e feedbacks. Tudo isso deixa as regras do jogo claras”, pontua.

MILENA BRENTAN é fundadora da MB People, empresa dedicada a disseminar práticas de RH e desenvolvimento humano que geram impactos positivos nos negócios. Com um histórico profissional que conta com passagens por empresas renomadas, como Airbnb, Grupo Pão de Açúcar e Vox Capital, Milena utiliza sua experiência para direcionar executivos e líderes no caminho do desenvolvimento profissional.

Para conferir a matéria completa, acesse a edição 108 da Revista Franquia