Chega de modismos
Caro leitor, desta vez vou começar com um relato pessoal. Nesta semana, enquanto me preparava para o texto que iria escrever e me dando conta da escassez de ideias, quando já constatava um certo bloqueio criativo, eis que sou salvo por uma singela parada na banca de jornal. E então, lendo desinteressadamente a capa de uma revista de negócios de grande circulação, me deparo com o rufar de tambores anunciando a mais recente modinha corporativa “a empresa sem chefe”. Bingo, a criatividade voltou na hora.
Como já afirmei em artigos anteriores, se há dois setores absolutamente sem limites na nossa vida produtiva cotidiana, estes são o governo – com a sua sanha arrecadatória e a sua tara por carimbos e confirmações cartoriais – e o outro, o setor corporativo, com suas invenções cosméticas em sua eterna busca pelo “mundo de Alice”.
Fico aqui imaginando a cena. O jovem (ou velho) recém contratado, adentrando no ambiente moderninho (de uma empresa que afirma gloriosamente não ter chefes) repleto de almofadas coloridas pelo chão e mesinhas de jogos. Ao redor panfletos com afirmações politicamente corretas e fichas de adesão para trabalhos voluntários. No primeiro encontro com um dos sócios (ah e que não é chefe de ninguém ali, deixemos bem claro), escuta da entidade “eu não mando em ninguém aqui, sou apenas um amigo e mentor” e completa “a propósito você tem duas semanas para largar esse visual careta, e saiba que se não bater a meta do trimestre estará fora” e completa “não gostei muito dos seus últimos posts no face, me pereceram muito reacionários, reveja seus conceitos”. Mas o ambiente é de absoluta liberdade – e sem chefes – é claro.
Estereótipos e ironias a parte (afinal de contas estamos no campo das anedotas), o fato é que a piada anda saindo caro demais. Essa narrativa cosmética que tomou conta nos últimos anos de grande parcela do ambiente de negócios, envergonhada em viver o capitalismo da forma como ele é, – e não estou afirmando que o dito cujo não necessite passar por ajustes e reformas – vem alienando gerações e gerações de gente capaz, competente e bem formada, desperdiçando a energia e o empenho necessários para edificar e viver o mínimo de um capitalismo moderno. Pior, pouco a pouco, a nossa comunidade produtiva vem sendo cada vez mais, menos levada a sério, a não ser na hora da arrecadação de campanha, naturalmente.
A prova de como somos desconsiderados pode ser constatada nas propostas dos principais candidatos à disputa presidencial. Notem que nada ali aborda de forma concreta, crível ou convincente o universo produtivo das pequenas e médias empresas e nem mesmo das grandes (o alto empresariado anda bastante decepcionado com o que vem escutando). Para exemplificar, nenhuma letra, além das platitudes de sempre (isso sem contar os ataques velados e diretos) sobre a massacrante burocracia que vivenciamos no dia-dia, ou sobre a insegurança jurídica (sobre reformas na lei trabalhista então, nem pensar), três bastiões essenciais para a manutenção do nosso atraso microeconômico com reflexos diretos na conjuntura macroeconômica.
Contudo, ataques velados ou diretos não faltam, como no caso das críticas obsessivas ao agronegócio, sem o qual provavelmente nenhum Pibinho existiria.
É isso meu amigo, enquanto perdemos tempo com as frivolidades corporativas de sempre, reforçamos o estigma de subservientes contentes que já paira sobre nossas cabeças, mantendo enjaulado “o mitológico espírito animal do empresariado” e com isso deixamos de ser e de construir tudo aquilo que poderíamos.
E não há no mundo experiência de maior transformação social e proliferação de oportunidades do que aquela experimentada em uma dinâmica econômica arejada, livre, descomplicada, contudo ordenada por regras claras e rígidas.
Contudo, essas conquistas não são fruto de ilusionismos infantis, mas de uma classe produtiva exigente, incomodada, engajada e ativa.
Fora disto, é preciso conviver com o custo da omissão. Quem cala consente.
Até o próximo.
Por: Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial
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