Baixas expectativas não podem nos contentar.
Meus caros, em tempos de pós eleição presidencial, diante do clima que se instaurou, e onde a poeira teima em não baixar, algumas reflexões se fazem necessárias.
Antes de tudo o contexto. Existem os satisfeitos, convictos de que a continuidade do modelo vigente e a condução econômica estão no lugar e no tom adequados, convivendo com uma outra metade assustada, frustrada e receosa, a espera de sinais de que uma oposição finalmente se coloque de forma estruturada, exercendo o seu papel institucional de contrapeso ao peso do poder exercido pela situação. Em resumo, o anseio pelo velho, sólido e saudável antagonismo típico da normalidade em regimes democráticos liberais (para aqueles que não aceitam esse balanço, vale a sugestão de residirem por alguns anos em países ditatoriais com a missão de lá fazer oposição – será bem didático.)
Sugestões a parte, seria essa a prova de que no fundo no fundo somos uma democracia sólida, que apenas convive com o natural conflito de posições, mas sobretudo blindada de retrocessos e maluquices como uma nova intervenção militar, ou uma guinada bolivariana? Aposto que sim.
Vencerá o pragmatismo econômico – a saber, cumprimento vigoroso do regime de metas de inflação, câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e redução do intervencionismo governamental – que hoje martela na cabeça do grupo político reconduzido pela terceira vez ao poder, para ser praticado sem moderação? É muito provável que sim, afinal de contas o senso de sobrevivência sempre fala mais alto e não há motivos consistentes para que assim não seja – e como sabemos, os frutos resultantes de sucessivos pibinhos acompanhados de forte pressão inflacionária trazem como efeito colateral forte didatismo.
Até aqui tudo mais ou menos previsível. Mas a grande questão é se iremos nos acomodar com tão pouco. Ou seja, estaremos mesmo satisfeitos apenas com a certeza de não vivenciarmos rupturas institucionais e com o bom senso econômico voltando a tona?
Para este último questionamento não tenho a resposta, mas é sempre bom lembrar que:
1. Ninguém investe pesado em um ambiente onde não há segurança jurídica;
2. Tomadores de risco não querem ser estigmatizados, mas conviver com regulação eficiente – porém não excessiva – protegidos de abusos e do massacre da burocracia;
3. O “bônus demográfico” brasileiro está chegando ao final, e por conta disso precisamos com urgência nos tornarmos uma sociedade mais produtiva, se desejarmos prosperar com equilíbrio social e ampla oferta de oportunidades;
4. O foco em educação precisa deixar de ser uma retórica vazia para se tornar uma política de estado, com menos pressão ideológica mais focada em formar cidadãos plenos e capacitados, com amplas condições de formatar as suas próprias opiniões;
5. Sem investimentos em infraestrutura morreremos na praia, sem jamais termos conhecido o nosso verdadeiro potencial econômico;
6. Devemos sim conviver com o conflito de opiniões e o contraditório, mas que desunidos não iremos muito longe, como de fato não estamos indo;
7. Necessitamos urgentemente somar ao nosso portfólio produtos de valor agregado, garantindo não apenas resultados mais consistentes e saudáveis em termos de balança comercial, mas sobretudo gerando empregos de melhor qualificação;
8. Não é possível conviver com uma carga tributária tão pesada, sem o devido retorno em investimentos e disponibilização de ampla eficiência estatal.
Então, para encerrar recorro ao óbvio, afirmando que uma sociedade que quer prosperar, jamais se contenta com baixas expectativas.
Até o próximo.