Sobrevivendo ao Brasil anti-empreendedor
Meus caros, independentemente do glamour com o qual o empreendedorismo passou a contar nos últimos anos – em uma narrativa repleta de casos arrebatadores de empreendedores da internet, das mídias sociais e de outros setores da economia por vezes mais anônimo e comuns – , e a parte do climinha “céu azul” que a mídia especializada em negócios aborda o tema, com mais e mais casos de legítimos e bem sucedidos empresários, no fundo no fundo, bem lá no fundo, o que concluímos no cotidiano, na vida como ela é, é o descaso absoluto.
Em plena época de campanha eleitoral, onde todas as promessas sempre são colocadas a mesa objetivando a caça de votos, não se escuta, não se pronuncia e nem se aborda, nem mesmo de longe, qualquer tema concreto, com o mínimo de consistência que trate das grandes preocupações dos empresários e empreendedores brasileiros.
Ou seja, reforma tributária (quando escuto alguma retórica a respeito, sinto até medo de que façam a reforma para elevar a carga tributária), redução da massacrante burocracia (leva-se aproximadamente dois meses para mudar o endereço de uma empresa no Brasil), flexibilização das leis trabalhistas (a atual legislação emperra o mercado de trabalho e é fonte inesgotável de riscos para o empregador) e regulamentação/legislação aplicada clara e objetiva eliminando interpretações adversas (a insegurança jurídica no Brasil é um dos principais “freios de mão” aos investimentos de risco), nem sequer ocupam espaço no blá, bjá blá cansativo dos candidatos. Quando se ouve algo, quase sempre não passa de pura retórica.
Ao contrário, no lugar de soluções, recebemos o estigma e a hostilidade. Se você opera no mundo virtual, então você colabora com a natureza, mas contribui para a redução de mão de obra operacional e causa desigualdade social. Se você monta um banco, você não presta, se opera no agronegócio, você é inimigo do meio-ambiente. Seu o seu negócio cresce e por conta do sucesso precisa sair do regime tributário “simples” você é penalizado com mais e mais impostos e obrigações regulamentares.
Em resumo, uma dinâmica tomada de preconceitos e simplismos com a qual temos de lidar. Então aqui vão algumas dicas para sobreviver agora, no futuro e sempre, quando se trata de economias que demonizam o empresariado – mesmo dependendo dele para tudo.
1. Aconteça o que acontecer, seja discreto. O seu negócio pode estar a todo vapor e você fazendo uma boa grana. Pague os impostos, faça o seu trabalho mas suma de cena;
2. Mantenha a documentação em dia. Conte com um contador metódico e disciplinado. Quanto mais crítico ele for com a sua condução melhor. Isso o protegerá de complicações futuras;
3. Conceba e siga com rigor um planejamento financeiro bem feito. Conheça os seus números e sempre provisione impostos, taxas e outras arrecadações, antes de qualquer outra disposição sobre o caixa da empresa;
4. Aproxime-se da sua entidade de classe, ali seja atuante e monte um núcleo de confiança, influência e que compartilhe problemas comuns. É com a força de uma organização desse tipo que você poderá antecipar ameaças e lutar com causas inerentes ao seu mercado;
5. Você precisa de eficiência e organização. Trabalhe com gente séria e competente;
6. Amplie o seu arco intelectual, você precisa ser capaz de analisar e antever movimentos hostis;
7. Opere sempre com liquidez. Sim é sacrificante, mas esse cuidado vai lhe trazer noites mais bem dormidas, além de uma diversidade superior de margens de manobra;
8. Conte sempre com um bom advogado. Mais cedo ou mais tarde você vai precisar dele;
9. Não desanime, isto é apenas uma fase de pressão ideológica, logo virá a maturidade e seremos mais bem interpretados e entendidos. Quem sobreviver colherá os frutos.
Boa sorte e até o próximo.
Por: Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial
Plataforma Brasil, uma butique especializada em projetos de investimentos e estruturações estratégicas.