Metade das franquias apontam quedas superiores a 25% na 2ª quinzena de março, diz estudo da ABF

• Pesquisa de desempenho mostra impactos da pandemia no faturamento do setor e na abertura de novas unidades no trimestre e, principalmente, na segunda quinzena de março


• Setor agiu rápido e adotou ou ampliou iniciativas de e-commerce, delivery, serviços digitais e promoções, além de reforçar orientações sanitárias e se engajar em ações sociais


• 47,7% das redes mantiveram ou ampliaram seus planos de expansão

O setor de franquias foi impactado diretamente pelos reflexos econômicos e sociais da pandemia de Covid-19, especialmente as políticas de isolamento social e o fechamento dos shoppings. A Pesquisa de Desempenho Setorial da ABF (Associação Brasileira de Franchising) do 1º trimestre mostrou que a queda no faturamento de praticamente metade das franquias foi superior a 25% na segunda quinzena de março de 2020, em relação ao mesmo período de 2019. Na comparação com a quinzena anterior de março de 2020, a queda de faturamento superior a 25% foi registrada por 44,2% das franquias. Analisando o primeiro trimestre como um todo, o impacto foi menor, mas ainda bastante significativo: o faturamento passou de R﹩ 41,464 bilhões em 2019 para R﹩ 41,537 bilhões em 2020, crescimento de 0,2%, enquanto o crescimento no mesmo período de 2019 foi de 7%.

Na comparação entre a segunda quinzena de março e a primeira, houve um reflexo semelhante à análise anterior, mas com um maior número de redes (17,2%) que alegaram não ter sentido grandes diferenças.

Faturamento das franquias no 1º trimestre de 2020 — Foto: G1 Economia

“Nossa pesquisa mostra que o setor estava com um bom desempenho em janeiro e fevereiro, mas em março o declínio devido à pandemia ocorreu de forma muita rápida. As políticas de isolamento social, principalmente o fechamento dos shoppings, provocaram uma diminuição sensível na demanda do consumidor. A queda só não foi maior, pois essas ações foram implementadas no final do trimestre, sem contar que muitos estados ainda não tinham aderido firmemente à quarentena”, afirma André Friedheim, presidente da ABF, acrescentando que, com esses dados, já é possível projetar a continuação desta trajetória no 2º trimestre.
Outro reflexo importante foi a diminuição no ritmo de expansão de unidades e da geração de postos de trabalho. O setor encerrou o trimestre com 161.141 unidades em operação, 1% a mais do que no trimestre anterior (na mesma comparação no 1º trimestre de 2019 esse saldo foi de 2,5%). O volume total de empregos diretos foi de 1.361.795, 0,3% a mais do que o trimestre anterior.


“Esses dados refletem uma diminuição do ritmo de expansão, maior aversão a risco e o fechamento de algumas unidades em decorrência da pandemia. Notamos também que algumas empresas deixaram o sistema ou suspenderam planos de expansão por meio do franchising, o que acabou se refletindo nestes números. Vamos acompanhar de perto estes dados nos próximos meses. Por isso a importância dos programas governamentais de estímulo, especialmente as linhas de crédito destinadas aos pequenos e médios empresários”, disse o presidente da ABF.


Na análise por segmento no trimestre, os que apresentaram melhor desempenho foram Serviços Automotivos (crescimento no faturamento de 7,4%), Comunicação, Informática e Eletrônicos (+6,9%), Limpeza e Conservação (+5,6%), Casa e Construção (+3,6%) e Serviços Educacionais (+3,5%). Características intrínsecas de cada segmento foram bastante importantes para tais resultados. No caso de Serviços Automotivos, temos o impacto de uma frota mais envelhecida e o fato de que muitas cidades, incluindo São Paulo, permitiram a continuação da atividade na quarentena. Já Comunicação, Informática e Eletrônicos vem sendo estimulado pela consolidação de empresas de tecnologia em meios de pagamento, além do crescimento dos investimentos em marketing digital e comunicações online de forma geral – muitas redes desta área inclusive, operam no modelo home based, logo já estavam preparadas para o momento de isolamento social.


Além da recuperação dos mercados imobiliário e da construção civil, Limpeza e Conservação e Casa e Construção são segmentos que possuem clientes corporativos que, em geral, são mais resilientes. Houve ainda uma maior demanda por limpeza, pelas questões sanitárias envolvidas na pandemia, e a realização de manutenções e pequenas obras em casas, que agora passaram a concentrar a maior parte da vida das pessoas. Por fim, o segmento de Serviços Educacionais conseguiu migrar grande parte de seus serviços para o ambiente online – alguns países inclusive registraram aumento de demanda para capacitação a distância na quarentena -, além de ser o período em que grande parte das matrículas são realizadas.


Outros ramos que merecem destaque são os de franquias de supermercados e farmácias, que experimentaram um pico de demanda no final de março, cujos resultados devem se refletir mais fortemente no segundo trimestre. Maior segmento do franchising brasileiro, o segmento de Alimentação já sentiu com força os impactos da Covid-19 e registrou uma queda no faturamento no trimestre de -1,6%.


Adaptação ao novo cenário


O estudo da ABF identificou também que o setor reagiu rápido aos reflexos da pandemia. Dentre as principais ações já adotadas (índice superior a 70%) estão serviços online, orientações e treinamentos sobre Covid-19, delivery, e-commerce e promoções. Um pouco abaixo, mas com grande penetração, estão a formação de comitês de crise, criação de novos produtos ou serviços, antecipação de férias na franqueadora, desenvolvimento de novas tecnologias/inovação e ações solidárias (índice superior a 55%).



“Este difícil momento que vivemos mostra mais uma vez as vantagens de empreender dentro do sistema de franchising. Não que nossas unidades estejam imunes, mas elas têm mais estrutura e acesso a conhecimentos e experiências para reagir mais rápido. Não raro, o primeiro crédito que o franqueado tem acesso, por meio da postergação ou suspensão de taxas e pagamentos, é do próprio franqueador. Além disso, muitas redes se mobilizaram para buscar melhores condições de crédito, negociar com locatários e administradores de shoppings e conversar com fornecedores diversos. Notamos também um intercâmbio ainda maior entre os franqueados e até o desenvolvimento de novos produtos e serviços”, ressalta André Friedheim. Como boas práticas, algumas redes relataram ainda o suporte intensificado aos franqueados, a realização de reuniões online e webinares, comunicação frequente, home office e atendimento via redes sociais.
Outro indicativo da solidez do setor é que 47,7% das redes mantiveram ou ampliaram seus planos de expansão



A ABF também tem agido fortemente para apoiar o setor e se adaptar a este momento. A entidade digitalizou grande parte de suas atividades, promovendo webinares semanais com temas relevantes para o setor e mesas virtuais quase diárias para os franqueadores trocarem experiências e melhores práticas na crise. Em termos de boas práticas, sugeriu a seus associados, de acordo com a realidade de cada franqueadora, a isenção ou suspensão de taxas típicas do sistema durante a pandemia, alargamento de prazos de pagamento e renegociação conjunta com fornecedores, além de maior atenção a questões sanitárias e de prevenção à Covid-19. Em paralelo, a ABF se articulou com associados e entidades correlatas para uma negociação com shopping centers, locatários de forma geral, bancos, emissores de cartão e o próprio governo com vistas a melhores condições para franqueados e franqueadores.